27.5.04

festival de guerras

eu tenho o maior respeito por repórteres que cobrem guerras. nao tem como nao ter, né? neguinho se mete no fogo cruzado para nos manter informados. no mínimo temos que reconhecer que é um(a) jornalista com culhoes.

ao mesmo tempo, eu tenho um certo desprezo por esse tipo de encantamento, essa aura de super-repórter que envolve a cobertura de guerra. como se cobrir uma guerra fosse um prêmio. come se ver a guerra de perto fosse um privilégio.
me incomoda isso.

guerra, para mim, é a invensao mais escabrosa e medonha, triste e humilhante do ser humano. quando todos os valores se transformam, e a saúde ou a vida de uma (ou milhares) de crianças e adultos viram um centímetro perto dos quilômetros de importância que tem aquilo que se busca. seja lá o que quer que se busque.

todas as instituiçoes que trabalham em guerras, cruz vermelha, médicos sem fronteiras, onu, afirmam que nas guerras atuais, pós-segunda-guerra, pelo menos 85% dos mortos sao civis. ataques cirúrgicos, bombas inteligentes. nao importa. de cada 100 que morrem, ao menos 85 sao gente que trabalha no boteco da esquina, na banca de jornais ou varrendo o chao. apenas 15 sao militares. estranho, nao?

por isso me embrulha o estômago quando vejo repórteres felizes, contando que estiveram no iraque, ou que estao embarcando para o afeganistao. dá uma sensaçao de que fazem parte total desta inversao de valores.

ontem comprei um livro chamado JE VOULAIS VOIR LA GUERRE, da fotógrafa francesa Isabel Ellsen: "Un jour, j'ai tout quitté pour devenir photographe, photographe de guerre. J'ai laissé ma famille, mes amis, mes convictions, mon appartement douillet pour chausser des rangers, porter quinze kilos de matériel sur l'épaule,courir sous les bombardements et dormir sous les abris. Dormir sans jamais vraiment dormir. La peur vissée au ventre, le boitier à porté de la main, l'index sur le déclencheur... J'ai froid, j'ai chaud, j'ai faim, j'ai peur, je suis sale. Fallait pas y aller, fallait pas. J'y suis retournée. Toujours et tout le temps. Et j'ai aimé ça. On peut bien me demander pourquoi. Pourquoi la guerre, la violence, la misère, l'abandon ?... Pourquoi ces photos-là et pas les autres ? J'ai voulu apprendre à aimer la vie. C'est fait..."