26.4.05

um everest alí do lado da mesinha de cabeceira

que estranho escrever cabeceira. nossa. acho que nunca tinha escrito essa palavra antes na vida.

mas não foi para escrever cabeceira que passei aqui. foi para convidar vocês para virem escalar lá em casa, no meu quarto.

é isso mesmo. escalar!
é sério.

tem um amontoado tão enorme, mas tão alto de roupas masculinas num canto do quarto, que juro que daqui pouco tempo vai ser possível escalá-lo. não sem a ajuda de uma daquelas bengalas de madeira estilo paulo coelho, claro.
o piero diz que são roupas dele, mas o monte já está tão alto que eu começo a achar que foi o terreno sob o nosso edifício que andou se movendo mesmo.
mas venham logo, viu?

se demorarem, pode ser que fique ainda mais alto, e daí não vai dar mais para escalar. vamos ter que esquiar mesmo.

25.4.05

E depois não entendem porque os americanos são incultos!

A jornalista e arqueóloga Joanne Farchakh Bajjaly
escreve um relato tristíssimo sobre a destruição que as forças da coalizão causaram no Iraque, berço dos mais antigos objetos da humanidade.

Ela diz:

As próprias forças de coalizão danificaram sítios arqueológicos ao usá-los como bases militares.

A retirada de tropas da coalizão da Babilônia revelou a ocorrência de danos irreversíveis a uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Um relatório alarmante do administrador do departamento de Oriente Próximo do Museu Britânico, John Curtis, conta como áreas no meio de um sítio arqueológico sofreram terraplanagem para que se criasse uma área para helicópteros e estacionamento de veículos pesados.

"Eles causaram danos substanciais no Portão Ishtar, um dos monumentos mais famosos da antigüidade", escreveu Curtis.

"Veículos militares dos Estados Unidos esmagaram pavimentos de tijolos de 2,6 mil anos, fragmentos arqueológicos foram espalhados pelo sítio, mais de 12 trincheiras foram cavadas sobre depósitos da antigüidade e projetos militares de deslocamento de terra contaminaram o sítio para futuras gerações de cientistas."

"Soma-se a isso todo o dano causado a nove das figuras moldadas de tijolos de dragões no Portão de Ishtar por pessoas que tentaram remover os tijolos da parede."


Lamentável.
Matéria completa na BBC BRASIL

22.4.05

poesia de rua

ontem, saindo do metrô, vi um velhinho bem velhinho, tocando clarinete muito bem, e com a capa do clarinete aberta no chão, cheia de moedas. ele tinha um recadinho escrito em francês que dizia alguam coisa assim: a música é a poesia sem palavras vibrando as partículas do ar.

achei tão bonitinho tudo. parecia cena de filme.
e pensar que, quando vim para a europa pela primeira vez, pequenininha, fiz meu pai dar moedas para cada músico de rua que passamos. e paris era lotada deles.

não é que agora faltem músicos de rua (ou de meios de transportes) por aqui. acontece que há anos já, as figuras que entram nos ônibus ou metrôs tocando música, não são exatamente músicos. são imigrantes ilegais tentando achar uma forma criativa de pedir dinheiro. nada contra. a não ser pelo fato que TODOS tocam gaita (para os cariocas e paulistas: arcodeão) e quase todos tocam muito mal. fora que quando um "grupo musical" desce numa estação, um outro sobe. juro. é triste. e muito barulhento.

20.4.05

diz o ditado (italiano) que: morto um papa, se faz um outro.

dito e feito. e para chente chófem como moi, é até meio estranho ver um papa sendo chamado papa, mas não sendo o JPII. ver um papa com a cara que não é a do JPII. pior ainda: ver um papa com a cara do ratzinger que, convenhamos, não tem cara da papa. mas enfim. nem era isso que eu queria dizer. eu queria só frizar a coincidência dos acontecimentos atuais na itália:

se diz por aí que hoje o berlusconi deve renunciar.
(nada que assuste aos italianos, super acostumados a trocas bruscas de governos e que, em geral, me dizem ter certeza que essa é somento uma manobra política para fazer com que, no fim das contas, o próprio berlusconi volte a ser primeiro-ministro, mas chefiando uma nova aliança, e que ficará no governo por pelo menos mais um ano.)

sendo assim, cabe aqui uma pequena atualização do ditado italiano:
morto um berlusconi, faz-se um outro.

18.4.05

me lembro que uma vez, adolescente, perguntei ao meu professor de literatura (acho que eu não sabia o que fazer no vestibular, da vida, essas coisas):

- professor, para se virar escritor, o que a gente tem que estudar?
- bom, depende. tem de tudo. professores, advogados. o scliar, por exemplo, é médico. mas também tem muito escritor vagabundo por aí.

fiquei sabendo que o cardoso tá OFICIALMENTE virando escritor.
entenda a relação das frases acima como quiser :P

morar junto - a vida de uma perspectiva totalmente tragicômica

difícil ficar aborrecido quando se vive com alguém.
tem dias, piadas e brigas para todos os gostos.
um dos meus preferidos são os dias implicantes. quando tudo o que tu faz, é criticado pelo outro. ou quando tudo o que o outro faz te irrita. é um saco para quem tá fora, eu sei. fulaninho e cicraninha passam a tarde toda, entre amigos, um pentelhando o outro. "olha só como a tua amiga colocou a mesa!" ou causando constrangimento light nos outros "ai, vocês não acham que o zé pedro tá com asa? e caspa? e que deveria urgentemente tratar essa unha preta no pé esquerdo?".

ai, como eu adoro esses dias!
eles são mais divertidos quando a gente consegue rir da insuportabilidade que o outro nos causa. insuportabilidade amorosa, claramente. ninguém é suportável todos os dias do ano. e talvez só nisso mesmo o amor seja mais forte que tudo. não há traição, sacanagem ou fofoca que comprove o tamanho de um amor mais do que a rotina, mais do que os dias em que acordamos simplesmente insuportáveis.
mas mesmo quando a gente tá tão enjoado e irritado com o outro que nem consegue rir dessas bobagens todas, esses dias são muito legais.
eles dão uma pitada real, apesar de terem cara de comédia, às relações.

e o mais divertido vem na hora de dormir.
o casal passou o dia inteiro se implicando. todos os amigos já estão comentando: hiiiii, parece que eles tão em crise, hein? vocês viram como ela tava chata com ele? mas também, coitada, aquela unha preta... o zé pedro tem aquela unha preta há mais de dois anos!
mas do lado de dentro das quatro paredes, maria mônica e zé pedro vão dormir muito apaixonados: boa noite benzinho, boa noite tchutchuca. te amo. eu também te amo. e provavelmente, não sendo visível no escuro a unha preta de zé pedro, vão se lembrar de outras partes muito elogiáveis um no outro.
o amor não é lindo?

14.4.05

não se faz mais como antigamente...

os tempos e os preços, quando comparados, rendem um bocado o que se pensar.
por exemplo. a família do piero mora a uns mil quilômetros daqui, no norte da itália. acontece que a cidade deles, alba, fica longe de quase todos os aereoportos da região. isso significa que ir de carro até lá ou ir de avião, muda a viagem em duas ou três horas, apenas. e isso que leva umas doze horas para chegar lá de carro. quer ver?
da última vez, saímos da casa dele lá pelas 8 da manhã para pegar um trem que levou umas três horas para chegar em pisa. como os horários dos trens e dos vôos não coincidiam muito bem, tivemos que esperar umas duas horas antes de embarcar. demos uma volta na cidade. ok. daí fizemos o check in e ficamos ali esperando o embarque. o embarque atrasou em uma hora. depois mais uma hora e meia de vôo. depois a pequena viagem do aereoporto até bruxelas. depois o metrô até em casa. chegamos mais ou menos às cinco da tarde.

daí compara: um vôo lisboa-sp leva mais ou menos onze horas. e são quantos mil quilômetros mesmo?

outra dos nossos tempos. encontrei uma passagem bruxelas-sp que custa, com taxas, 600 euros. daí fui pesquisar a passagem sp-porto alegre. as melhores ofertas da tam e da varig custam mais de 300 euros! já pensou? metade do valor que me custa cruzar um oceano!

sei não, mas em algum dos lados tem alguém ganhando muito a mais do que deveria.

12.4.05

cal'éssa boca quisso é coisa pôca perto doqu'eu passei
esses meninos, los hermanos, não tem alguma coisa de lupcínio!

los hermanos: considere toda a hostilidade que há da porta pra lá
lupcínio: eu estou lhe mostrando a porta da rua, pra que você saia sem eu lhe bater

não suporto a violência nessa vida, mas algo na violência da vida me surpreende, me atrai, me emociona, me fascina. sílvia, uma amiga, esses dias falava que o mercado de trabalho é mulher de brigadiano: quando mais a gente bate, mais ele nos respeita. todo o respeito com as mulheres de brigadianos, mas na verdade, a vida é mulher de brigadiano. basta saber dar o tapa na hora certa. só tem que cuidar porque às vezes ela responde com cada porrada!

luta livre a parte: esses meninos, assim como o velho e bom lupcínio, são muito bons.

7.4.05

Minha Máquina de Lavar Roupas - a novela

aproveito que o piero tá viajando e vou na loja comprar uma máquina de lavar roupas para a nossa casa nova para fazer uma surpresa quando ele chegar. escolho o modelo, preencho a ficha com o vendedor. pago. eles estregam em casa sem cobrar nada. e instalam.
beleza! pensei.
mas não entregam hoje, nem amanhã. só sábado. piero já terá voltado. bom, paciência. ok.
sábado de manhã acordo com o telefone tocando: senhora cimenti, estou aqui embaixo com a sua lavadora de roupas. eu: pode subir, é no quinto andar. abro a porta e fico esperando.
e nada.
e nada.
e nada.
interfone: olha, senhora cimenti, a máquina não cabe no elevador. tenho que levar pela escada mesmo. mas hoje estou sozinho, e preciso da ajuda de um colega para fazer isso. será que posso voltar na quarta-feira? eu, decepcionada: só se for bem cedo, moço, tenho que sair para trabalhar. ele: ok. pode ser.
saber esperar é um ato maduro. paciência. pensei.
quarta-feira, mesma coisa. telefone me acorda: podemos levar a lavadora aí às 10:30? eu: não, meu senhor, só se for até às 9, caso contrário, não terá ninguém em casa. ele: ah, então só no sábado.... eu: mas meu senhor, no sábado teve um homem aqui, blá, blá, blá.....
fica para o próximo sábado então. certo.
madura é a vovozinha. que saco. pensei.
chego em casa nesse mesmo dia e encontro um recadinho da loja: estivemos aqui, você não estava. ligue para nós.
humpf.
no dia seguinte, ligo. fico meia hora gastando meu péssimo francês (e ainda pagando a ligação) explicando toooda a função. quem já tinha vindo, quando, para quê. e a cada hora me passavam para um atendente diferente. no final das contas, com os meus créditos quase acabando, me passam para um homem: minha senhora, como a máquina não cabe no elevador, e a senhora mora no quinto andar, e nós levamos pela escada APENAS ATÉ O TERCEIRO ANDAR, a senhora vai ter que pagar o aluguel de um elevador externo de mudanças. custa 90 euros. eu: não, moço (cê tá louco?, penso), então, seguinte, esquece tudo isso e me dá meu dinheiro de volta. ele: não posso, a senhora pagou e assinou a fatura, isso é um contrato de compra, não posso dar o dinheiro de volta. eu: como não? ele: não. eu: por que não? ele: porque não.
filhos daquela puuuuuuu**. pensei.
e dessa vez quase falei. juro.
mas se vocês pensam que a novela acabou por aí, rá, estão muito enganados.
na sexta-feira seguinte, acordo com o telefone tocando: bom dia, temos aqui um lavadora de roupa para entregar no seu endereço. podemos levá-la hoje, às 10 horas? eu, com sono, muito sono: não, minha senhora. eu moro no quinto andar, no elevador não cabe a lavadora e eu não vou pagar 90 euros pelo elevador externo. ainda estou decidindo o que vou fazer, se vou carregar do terceiro ao quinto andar em mesma, ou se vou trocar o valor da lavadora por um outro eletro-doméstico beeem mais leve e que caiba no elevador. ela: ok, obrigada, passar bem.
cinco minutos depois, telefone novamente: mas a gente pode mandar o elevador externo até aí, hein? é pegar ou largar. eu, colocando as pantufas: vou ter que pagar por ele? ela: sim. eu, já perdendo a última gota de paciência e maturidade: não, obrigada.
dez minutos depois, toca o interfone. eu, fazendo o café, digo para o piero atender que não aguento mais falar essas mesmas palavras em francês.
segundos mais tarde piero me chama: ticaaaaaa. eu: o que foi? ele: o homem com o elevadorzinho externo de mudanças chegou.
Ó DEUS, MEU DEUS, MEU DEUZINHO, SALVE-ME DO MUNDO DOS PRODUTOS E PRESTADORES DE SERVIÇOS BELGAS POR FAVOR. pensei.

moral da história 1: nunca, nunca, nunca, mas nunca mais na vida ponho os pés nessa maldita loja. depois de trocar o meu dinheiro pelo bem mais leve dessa espelunca.

moral da história 2: sigo lavando as roupas na lavanderia aqui perto de casa.

6.4.05

BLOG: trabalhamos
a sobrevida do minha optica está no ar.

i-mêiul

a vida no continente chique vai indo muito primaveril :) junto com o frio se vão meses de falta aguda de trabalho e começam a aparecer novidades super legais. e o verão europeu é sempre um espetáculo. aqui, diferente daí, o calor e o sol são motivos de festa cotidiana, é como se acabasse uma era glacial, e não apenas uma estação. assim, fica tudo realmente de verdade muito, mas muito mesmo mais colorido. e nessa cor toda, vou achando o meu espaço. acho que depois de mais de três anos fora do brasil, finalmente posso dizer que estou fazendo o que vim fazer aqui, seja lá o que isso for.

nossa. sôou tão poético que acho que até vou usar isso no blog :P

mas mais praticamente falando, me sinto no lugar certo, na hora certa, mesmo que não esteja em roma. e falando em roma, CERTAMENTE vou para lá daqui uns dias. se os milhares de colegas ainda tiverem deixado alguma pauta rolando, sabe, sou uma jornalista brasileira em solo europeu: trabalhamos :)