29.3.07

Não adianta lutar contra a natureza, minha alma feminista usa cabelo curto

Além disso a minha nuca estava precisando respirar :)

27.3.07

Ruim de cálculo

Eu tava jantando com amigos sexta-feira passada, já meio alegrinha da mistura alcoólica típica italiana, quando o namorado da amiga do Piero me pergunta:
- Quantos anos tu tem?
Resposta típica:
- Adivinha.
- ãããããããããããã... 35?
- Nããããão!! Rá...
- 32?
- Nééééo... ôôô...
- 37?
- Tá, cansei dessa brincadeira. 28. Passa o vinho por favor?

Eu hein, nunca mais.

26.3.07



Minha mãe sabe muito

Eu achei que ao dizer "sim, eu quero casar contigo", nada iria mudar. Organizaríamos um casamento à distância, eu me estressaria horrores, mas além disso o nosso relacionamento não mudaria em nada.

Ao organizar o casamento e me estressar como uma louca - e brigar com o futuro-marido dia sim e dia também eu me dei conta de que o casamento era, na verdade, um processo. A organização, o encontro das duas famílias, a lista, a prova da comida, a escolha do vestido... tudo faz parte de um processo... que leva ao casamento propriamente dito. Porque entre dizer sim e ficar lá na frente do padre tem uma grande diferença. A tua cabeça muda, a tua família muda, em alguns casos o teu nome muda. E o próprio processo em si se intensifica muito nos últimos dias, culminando em brigas (que depois são muito engraçadas, mas que na hora causam um oceano de emoções), em lágrimas, em reuniões intermináveis para almoçar, jantar ou tomar café da manhã com as duas famílias, uma de cada país e cada uma falando uma língua diferente na mesma casa por uma semana. O processo do meu casamento foi meio almodovariano. Digo meio porque faltou um pouco de homossexualidade. As mulheres à beira de um ataque nervos estavam todas lá.

Mas eis que depois de casar e voltar da lua-de-mel eu descubro que tem uma nova etapa nesse processo: agora eu tenho que digerir o fato de estar casada. Agora eu sou mulher de... e tenho uma família, que será a MINHA família de agora em diante. E já começa a faltar ar.. Respira. Respira. Nada mudou, a casa é a mesma, o Piero é o mesmo, Bruxelas é a mesma, mas ficou tudo tão diferente. Respira, respira. Fu, fu, fu. E se não der certo? E se não nos amarmos para sempre? E se a paixão acaba? E se...

- Minha filha, disse a minha mãe com ar solene de quem está dando uma recomendação importantíssima numa daquelas conversas entre mãe e filha pré-casamento, se a coisa ficar morna, briga. Brigar e bater boca tem solução, mas casamento monótono e morno, não.

Ontem, depois de fazermos as pazes com fortes demonstrações de afeto na praia, na chuva e na fazenda, ou numa casinha de Sapê, eu e o Piero devoramos uma caixa inteira de chocolatinhos Godiva e criamos uma nova regra na nossa vida: até ficarmos bem velhinhos comeremos bom-bom de chocolate metade um e metade o outro, comentando o recheio e devolvendo para a caixa aqueles abomináveis, mas só depois que os dois derem uma mordidinha. Eu incluí ainda uma outra cláusula - se o bom-bom for realmente excelente, eu como 2/3 e ele fica com o resto - mas ele ainda não ratificou.

Ólea (agora que sou casada posso fazer essas colocações imperativas sobre o negócio), não há casamento que aguente na paz!

22.3.07

(como diz a tai)
Bruxelas - tempo agora: primaveril, muito úmido

A primavera, isso eh cientificamente comprovado por algum cientista belga, eh um periodo de instabilidade excepcional em Bruxelas. Ontem por exemplo, 4 graus Celcius as 8 da manha, chuvas e trovoadas no decorrer do periodo, sol com nuvens esparsas entre 12:45 e 13:30 e chuva forte com NEVE a partir das 14. E eu juro, nao estou falando do meu estado emocional. Mas bem que poderia.

Minha aula de ingles virou uma sessao de terapia. Diz a Mrs Cunninghan que a gente passa a vida toda lutando. Para encontrar o amor da nossa vida. Para encontrar um trabalho que nos agrade. Para encontrar uma casa que nos acolha. Para entender o que queremos da vida - hoje. Para estabelecer uma rotina com todas as coisas de que precisamos. Amor. Comida. Contas pagas. Amigos. Um chopp na quinta-feira a tarde. E que quando atingimos um certo grau de estabilidade, parece que alguma coisa estah errada. Nao errada, mas certa demais. E aih se comeca a lutar consigo mesmo. Nao sei se a Mrs Cunninghan estah certa, mas em todo o caso ainda bem que a primavera dura soh tres meses.

15.3.07

Un Printemps à Paris

Paris eh sempre uma boa ideia, neh?
Enquanto em Bruxelas e Londres chove, em Paris os telhados ficam molhados. O sol desce cor-de-rosa, os predios historicos ficam amarelados, as luzes dos postes refletem nas pocas e tudo vira poesia. Pessima poesia, no meu caso.
Irresistivel eh a palavra que eu escolho para descrever tudo.
Paris na primavera eh quando tu acorda pensando que queria ter nascido francesa. Magra. Fumante de cigarros. Elegante sem parecer fazer esforco algum. Eh quando nao dah vontade de dormir porque daqui a pouco estah na hora de ir embora.
Paris eh uma festa, mas na primavera eu me mudaria para lah para virar boemia. Tipo a cigarra e a formiga. A formiga nao sei onde vive, mas a cigarra certamente passa a primavera em Paris.
Eu acho que eu gosto tanto de Paris que nao poderia morar lah nunca.
Seria horrivel destruir a espetacular imagem que eu tenho de um lugar no mundo.
E o cotidiano, mesmo para uma cidade como Paris na primavera, voces sabem, pode ser atroz.
Taih, Paris na primavera eh irresistivel e atroz.

Bem que o meu amigo Feichenberg podia escrever um livro por ano e lanca-lo em Paris na primavera. Ia ser uma boa desculpa para escapar e fazer pessima poesia.

5.3.07

E agora, Carolina?

Esses dias, eu não lembro se eu tava na cama esperando para adormecer ou no banho ou correndo no parque ou no escritório não fazendo o que tinha que fazer, me dei conta de que, fazendo alguns descontos com bom senso, a minha vida é exatamente como eu torcia para que ela fosse uns 10 anos atrás.

Uns 10 anos atrás eu comecei a trabalhar como jornalista. Tá, era na Rádio Ipanema, então era quase como se fosse um trabalho de grupo para a faculdade - e o rancho que eles nos davam todos os meses ultrapassava o valor que me pagavam pelo estágio. Fun times. Naquela época as minhas grandes aspirações na vida eram: em breve poder pagar as minhas contas, ser independente, sair de casa, ter alta na análise, aprender outras línguas, passar um tempo fora do Brasil, escrever, escrever, escrever, emagrecer, ter um carro com ar condicionado e cd, fazer do Brasil um país melhor, parar de me apaixonar uma vez por semana e viver um grande amor, comprar todos os cds do mundo, e acho que desesperadamente ir para a cama com alguma estrela pop, não lembro se era mais pro lado do Steven Tyler do Aerosmith ou um magrão alto que cantava numa bandinha de reggae na Ferrugem. Pensando melhor, espero que meu gosto sexual tenha evoluido para o bem da espécie humana.

Então fiz uma retrospectiva mental: eu tive um carro com ar condicionado e cd que eu vendi antes de embarcar para Roma sem saber bem o que eu estava fazendo, com alguns dos meus muitos cds na mala. Eu aprendi pelo menos duas novas línguas e meia desde então. Aliás, eu até comecei a esquecer o bom e velho português, o que eu nunca pensei que poderia acontecer. Eu tenho um emprego legal e mesmo quando eu não tinha, eu pagava as minhas contas mesmo assim. Fiquei independente e descobri que esse é praticamente um caminho sem volta. Uma vez que os pais deixam de contar a tua mesada nos gastos mensais fica difícil lembrá-los porque tu absolutamente pre-ci-sa de uns 300 contos para comprar um par de sapatos, uma bolsa um cd e um colar lindo. Eu estou orgulhosa em dizer que jamais iria para a cama com o Steven Tyler e provavelmente nem com o magrão do reggae (sinal de que os 30 se aproximam em velocidade máxima), não tenho me apaixonado uma vez por semana há tempos e, bom, tive coragem de abrir mão de algumas coisas para apostar num grande amor. My bad: eu continuo querendo fazer alguma coisa para melhorar o Brasil, mas isso deve passar com o tempo, talvez com os 40, quem sabe?

E aí, antes de voltar ao que eu estava fazendo, me pergunto, serão os pré-trinta anos de balanço? O que eu queria ser, o que eu sou, para onde me encaminho? Tô meio velha para não saber de onde viemos e muito nova para perguntar (que dirá para responder) para onde vamos!
Se é verdade que tudo o que eu queria atingir 10 anos atrás eu atingi, melhor pensar bem, muito bem antes de fazer planos para os 40. Vou ter que voltar a esse assunto... mas já vou adiantando que um milhão de dólares na conta corrente ia ajudar.