26.3.07



Minha mãe sabe muito

Eu achei que ao dizer "sim, eu quero casar contigo", nada iria mudar. Organizaríamos um casamento à distância, eu me estressaria horrores, mas além disso o nosso relacionamento não mudaria em nada.

Ao organizar o casamento e me estressar como uma louca - e brigar com o futuro-marido dia sim e dia também eu me dei conta de que o casamento era, na verdade, um processo. A organização, o encontro das duas famílias, a lista, a prova da comida, a escolha do vestido... tudo faz parte de um processo... que leva ao casamento propriamente dito. Porque entre dizer sim e ficar lá na frente do padre tem uma grande diferença. A tua cabeça muda, a tua família muda, em alguns casos o teu nome muda. E o próprio processo em si se intensifica muito nos últimos dias, culminando em brigas (que depois são muito engraçadas, mas que na hora causam um oceano de emoções), em lágrimas, em reuniões intermináveis para almoçar, jantar ou tomar café da manhã com as duas famílias, uma de cada país e cada uma falando uma língua diferente na mesma casa por uma semana. O processo do meu casamento foi meio almodovariano. Digo meio porque faltou um pouco de homossexualidade. As mulheres à beira de um ataque nervos estavam todas lá.

Mas eis que depois de casar e voltar da lua-de-mel eu descubro que tem uma nova etapa nesse processo: agora eu tenho que digerir o fato de estar casada. Agora eu sou mulher de... e tenho uma família, que será a MINHA família de agora em diante. E já começa a faltar ar.. Respira. Respira. Nada mudou, a casa é a mesma, o Piero é o mesmo, Bruxelas é a mesma, mas ficou tudo tão diferente. Respira, respira. Fu, fu, fu. E se não der certo? E se não nos amarmos para sempre? E se a paixão acaba? E se...

- Minha filha, disse a minha mãe com ar solene de quem está dando uma recomendação importantíssima numa daquelas conversas entre mãe e filha pré-casamento, se a coisa ficar morna, briga. Brigar e bater boca tem solução, mas casamento monótono e morno, não.

Ontem, depois de fazermos as pazes com fortes demonstrações de afeto na praia, na chuva e na fazenda, ou numa casinha de Sapê, eu e o Piero devoramos uma caixa inteira de chocolatinhos Godiva e criamos uma nova regra na nossa vida: até ficarmos bem velhinhos comeremos bom-bom de chocolate metade um e metade o outro, comentando o recheio e devolvendo para a caixa aqueles abomináveis, mas só depois que os dois derem uma mordidinha. Eu incluí ainda uma outra cláusula - se o bom-bom for realmente excelente, eu como 2/3 e ele fica com o resto - mas ele ainda não ratificou.

Ólea (agora que sou casada posso fazer essas colocações imperativas sobre o negócio), não há casamento que aguente na paz!

5 comentários:

Anônimo disse...

Godiva abominável? existe isso?

Anônimo disse...

que lindo isso.

Unknown disse...

casamento sem briga? não sei, não me apresentaram...

the writer disse...

solon, godiva pode ser meia-boca sim... como diz um amigo meu: ateh o paraiso pode ser uma merda.

daniella, lindo, mas gasta uma energia...

cassia, pois eh, tu mesma jah tinha me preparado para isso ;)

Anônimo disse...

eu sei. já fui casada, com um homem que não gostava de chocolate.